CHORO CARIOCA (1911-1913)
Primeiro grupo instrumental de Pixinguinha, aparentemente teve formação variada ao longo dos anos de 1911 e 1913. Do total de 16 gravações realizadas pelo Choro Carioca, nove foram lançadas pela Favorite Records, da Casa Faulhaber & Co., em 1911, e sete lançadas pela Phoenix em 1913. Nas gravações da Favorite Records, o grupo foi formado por Irineu de Almeida (oficleide), China (apelido de Octávio Vianna, violão e voz) e Léo Vianna (violão). Em relação ao cavaquinho do conjunto nas gravações da Favorite Records, há, segundo Sérgio Cabral em sua biografia de Pixinguinha, duas informações conflitantes do próprio compositor: ao historiador José Ramos Tinhorão, Pixinguinha afirmara que o cavaquinista era Luís de Faria (conhecido como Lulu Cavaquinho); já no depoimento para o Museu da Imagem e do Som, afirmara que era Henrique, seu irmão.
Já as sete gravações realizadas para Phoenix em 1913 apresentam o conjunto com uma outra formação, conforme se depreende através da audição do choro Carne assada, onde o locutor anuncia, ao longo da execução, os nomes dos integrantes do conjunto: Bonfiglio de Oliveira (trompete), Pixinguinha (flauta), China (violão e voz), Léo (violão), Adalberto Vieira de Azevedo (conhecido como Betinho, bandolim), Honório de Matos (cavaquinho) e um certo Jorge no bombardino, que muito provavelmente era Jorge Seixas, integrante do grupo Africanos de Vila Isabel.
Formações à parte, o Choro Carioca será fundamental para Pixinguinha, por diversos motivos: em primeiro lugar, pelo contato com Irineu de Almeida, que sem dúvida o aproximou do universo dos velhos chorões do século XIX (como Guilherme Cantalice e o próprio Irineu de Almeida), de quem Pixinguinha herdaria o senso de forma musical e, mais importante, a característica contrapontística do choro. Estes dois elementos estarão sempre presentes em suas composições e em seus arranjos até o final da vida. De suas várias músicas que nitidamente já foram compostas com o formato de melodia e contracanto, até os arranjos de épocas posteriores, como os do Grupo da Guarda Velha e dos Diabos do Céu, passando finalmente pelas sensacionais gravações ao sax tenor com Benedicto Lacerda, toda a escrita e execução de Pixinguinha estará sempre marcada pelo equilíbrio formal e pelo contraponto típico do choro do século XIX.
Também será através deste conjunto que Pixinguinha realizará suas primeiras gravações comerciais, com apenas 14 anos de idade. Malgrado a qualidade precária das gravações, ainda realizadas na fase mecânica, onde não havia qualquer uso de eletricidade no processo de gravações, já é possível vislumbrar características musicais importantes do conjunto.
O som límpido e bem articulado da flauta de Pixinguinha – da marca italiana Balancina Billoro, número de série 2.424, comprada por seu pai, Alfredo da Rocha Vianna, ao custo de 600 mil réis – já prenuncia o grande virtuose que hipnotizará as plateias dos Oito Batutas com o Urubu. O som suave do oficleide de Irineu de Almeida no contraponto também é bastante audível nas gravações da Favorite Records e sem dúvida será uma referência para o Pixinguinha instrumentista de sax tenor da década de 1940.
Bonfiglio de Oliveira aparece apenas nas gravações da Phoenix, em dois solos de trompete de músicas de sua autoria: Guará e Roseclair. Tanto pela qualidade das composições quanto pelo toque límpido e de uma suavidade que se aproxima mais dos instrumentos de madeira do que dos de metal, as gravações são muito significativas e prenunciam o autor de clássicos como Flamengo e Bonfiglio à casa torna.
Finalmente, ressalte-se que o Choro Carioca pelas primeiras gravações de composições de Pixinguinha. Ao contrário da informação muito difundida de que o tango Dominante teria sido a primeira música de Pixinguinha a ser gravada (pelo Bloco dos Parafusos em 1916), as músicas Carne assada e Não tem nome foram de fato as primeiras músicas do compositor a serem registradas em disco Phoenix em finais de 1913.